Nenhum de Nós | Collab Music

1 – Carlos foi fundador do Engenheiros do Hawaii, qual foi o momento que ele decidiu sair e por que?

Carlos Stein: Fui, de fato, membro da primeira formação dos Engenheiros. A banda começou na Faculdade de Arquitetura da UFRGS, onde nos conhecemos, o Humberto, o Maltz, o Macelo Pitz e eu, lá no começo dos anos 80. Fiz com eles dois shows, ambos na faculdade mesmo. O primeiro foi no auditório e o segundo foi num terraço que existe em cima da entrada da Arquitetura. Os shows foram muito bons, pelo pouco que me lembro. Pelo menos eu me diverti bastante. Acabou que não continuei com a banda. Estava ainda focado na faculdade mesmo, encarando tudo como uma brincadeira. O lance das bandas nacionais ainda estava muito no começo. No final acho que não escapei ao meu destino, pelo jeito. Pouco tempo depois, Junto com o Sady e o Thedy comecei uma outra banda.

2 – As principais bandas de rock do Brasil são da década de 80, porque nessa época todo mundo queria ter uma banda de rock?

Sady Homrich: Vários fatores levaram a essa inquietação da meninada da década de oitenta do século passado. Transformações locais e mundiais foram inspiradoras e libertárias. Por aqui o final da ditadura opressora e conservacionista; no hemisfério norte a reunificação europeia simbolizada pela queda do Muro de Berlim, só pra citar estas mudanças. Artisticamente a MPB dava sinais de cansaço e a música mundial se reinventava com o punk e pós punk. Quando vimos as bandas de SP, RJ, BA e Brasília abrindo espaço com uma poesia pungente e atitude ficou claro que era possível montar uma banda em qualquer canto do Brasil. Considero o Rock in Rio I (1985) um marco de valorização do rock nacional. Assisti os 3 últimos dias e nunca poderia sonhar que estaria tocando bateria no palco do Rock in Rio 2 em janeiro/1991!

3 – Vocês escreveram a música Camila inspirados em uma mulher que sofria abusos, o nome dela foi trocado e até hoje ela não sabe que essa música foi pra ela. Por que vocês escolheram o nome Camila?

Carlos Stein: Estávamos trabalhando nessa música que falava sobre um cara que tratava mal uma garota. Fizemos a letra baseados na nossa indignação quanto a isso. Conhecíamos a moça envolvida e não quisemos usar o nome dela para não deixá-la exposta. Naquele dia chovia e o dono do estúdio colocou folhas de jornal no piso para preservar o carpete de nossos tênis molhados. A música já estava praticamente pronta, só faltava um refrão. Ficamos rodando o arranjo várias vezes até que o Thedy olhou para o chão e viu, na programação do cinema daquele dia, um filme de um ciclo de longas argentinos que passavam em algum lugar na cidade. O filme se chamava Camila. Ele então cantou: Camilaaaa, Camilaaaaa. E assim nasceu nosso maior sucesso.

4 – São 35 anos de estrada, como foi passar pelo vinil, fita, cd, e é claro, a internet que acelerou tudo. Como foi a transição das mídias (vinil, cassete, CD, plataformas digitais)?

Veco Marques: Ao longo dos 35 anos de carreira, transitamos por todas as possibilidades de registro da nossa obra, do físico ao digital. Creio que absorvemos bem essas mudanças, mesmo que até hoje ainda convivamos com todas elas. Ainda é um troféu quem detém um vinil original ou comprado por um bom valor nos acervos disponíveis… particularmente sinto falta de uma bela capa de um disco, que por si já era uma bela carta de intenções estética, um pouco do que encontraríamos ao colocar para rodar o bolachão. Por outro lado, as plataformas e a Internet como meio de distribuição e acervo, facilitou a pesquisa e o interesse pela obra dos artistas, pois é muito ágil e nos une rapidamente com a nossa Legião de fãs. Sabemos com mais precisão para quem nos comunicamos e por onde andam nos ouvindo. Todo esse processo de mudanças é válido e muito nos interessa para estarmos conectado com nosso público e podermos expandir de maneira exponencial a nossa obra.

5 – Com todos esses anos de estrada, como vcs mantém o pique? Tanto baseado em família como a própria capacidade criativa?

João Vicenti: A estrada se encarrega de nos impulsionar cada vez mais a sermos dedicados aos nossos propósitos. Uma banda com identidade tanto sonora quanto poética. São anos de cumplicidade, amizade, que contam também com o apoio que vem de casa, da família, dos amigos. Nunca nos afastamos do nosso público, temos números que quebram alguns recordes e tabus. Uma das raras bandas do Brasil a manter a mesma formação desde o princípio e isso nos enche de orgulho. Mas não basta. Permanecemos focados em nosso trabalho, nos reinventando, procurando novos desafios, descobrindo novas referências, mantendo-se atualizados, mas sobretudo também mantendo o que nos motivou lá atrás, sermos uma boa banda de rock.

6 – Como vocês vêem os trabalhos de collab, isso é agregar o nome do nenhum de nós em outros nichos como a moda por exemplo?

Antonio Meira (produtor): á tivemos experiências anteriores ao longo da carreira, o envolvimento de moda e música é um caminho recíproco permanente. Estas colaborações são  também diálogos artísticos que nos mostram o quanto talento musical e estilos marcantes de roupas e figurinos, remetem à construção da imagem de um artista. As parcerias do mundo fashion com a música são diversas e cada vez mais surpreendentes. O envolvimento com uma marca do segmento da moda nos permite encorpar a visibilidade da banda, ressignificando a imagem do artista e reforçando a ideia de renovação.

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Gosto de fazer arte, de criar, de pintar o 7.

Carioca, nascido no dia 19 de fevereiro de 1952, iniciou sua carreira artística através do teatro. Participava do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone nos anos 70 e no início dos anos 80 já fazia sucesso como líder da Banda Blitz, uma das bandas mais populares do Brasil.

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